domingo, 27 de março de 2016

FELIZ PASSAGEM!


E assim aprendemos
Que após o calvário
Perseguições e injustiças que você tem suportado
Após o isolamento
E aparente fim
A rocha se moverá
Seu momento de evoluir chegará
E sua ascensão será celebrada por todos os seus

Maoli

domingo, 13 de março de 2016

MEU LAR



Abro os olhos lentamente e quase me cego com o sol que  passa pela janela. 
_ Que horas são?  E, principalmente, quem tirou as cortinas? Ah, mas eu mato o esperto que fez isso.

Me levanto com dificuldade. Cabeça pesada, fraqueza, vertigem. 
_ Onde estou? Ufa! Meu quarto.

Não consigo me lembrar da noite de ontem.
_ Meu Deus! Que ressaca!

Saio do quarto procurando minha família.
_ Mãe! Cris!
Grito. 
Nenhum sinal. Vou lá fora.
Elas devem estar no quintal.
_ Cadê a droga da chave dessa porta? Só me faltava essa...
Estou preso em casa. 

A sensação de vertigem aumenta. Náuseas.
_ Vou vomitar.
Sento-me no sofá, abaixo minha cabeça e a apoio com as mãos. 
Eu estranho o conforto do sofá.
_ Quando foi que compramos um sofá novo? Caramba! Dessa vez eu exagerei. Não bebo nunca mais.

*
*
*

Ainda no sofá, olho pela janela e já está escuro lá fora. 
_ Quanto tempo fiquei aqui sentado?

Barulho no portão. Alguém está tentando abrir. Deve ser minha mãe ou a Cris chegando. 
_ Finalmente vou poder sair.
Uma sensação de pânico invade meu corpo. Não é minha mãe. Não é a Cris. É um homem estranho. 
Arrombou a fechadura do portão? Meu Deus, o que eu faço? 
_ Vá embora daqui! Eu já chamei a polícia! Vá embora! Socorro! Ladrão!
Grito na esperança de assustá-lo e, também, na esperança de algum vizinho ouvir. Grito, mas parece que minha voz não sai. 

Ele chega até a porta da sala. Agora está mexendo na fechadura. 
_ Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!
No susto, saio esbarrando em tudo, cadeiras, mesa. Derrubo uma pilha de livros que estava em uma prateleira na sala. Ele para de mexer na porta. Acho que o barulho que fiz o assustou. Tomara que tenha ido embora.

Vou para meu quarto, pegar meu celular e ligar para a polícia. Ele volta a mexer na fechadura. 
Tento trancar a porta, mas não encontro as chaves. Nada do meu telefone também.
_ Onde estão as chaves dessa casa? Sempre deixei a do meu quarto na porta.
Não acredito. Ele entrou!

*
*
*

Me escondo embaixo da mesa de estudos, ao lado da cama. Ouço seus passos se aproximando. Ele entra no quarto, mas não me vê. Fica de costas para mim e joga uma pasta sobre a cama. O medo toma conta de mim. Estou respirando muito forte. Não consigo parar. O homem vai me ouvir. Ele começa a esfregar as mãos e, em seguida, os braços, como se estivesse sentindo frio, e, de repente, para. Acho que notou que eu estava ali. Olha para trás lentamente, me procurando.

Não tinha mais jeito. Eu me levanto.
_ Olha, pode levar o que quiser! Eu não chamei a polícia não, era mentira! Pegue logo o que quiser e vá embora! Por favor, eu não vou reagir, por favor, minha família deve estar voltando, por favor, não nos faça mal, por favor, por favor!
Estranhamente, ele faz sinal com a mão para eu não me mexer. Vai andando para trás, como que com medo. Sai do quarto e tranca a porta. Me deixa aqui. 
_ Como ele tinha a chave da porta? Meu Deus, o que está acontecendo?

*
*
*

Uma claridade muito forte entra pela janela. 
_ Como assim já amanheceu? Eu dormi? Será que ele já foi embora?
Ouço passos novamente. Passos e um burburinho. Dois homens e uma mulher. Nenhuma voz conhecida. Barulho de chaves. Vão abrir a porta. Cansei disso. Vou exigir uma satisfação. Eles entram.
_ Que droga que tá acontecendo? Quem são vocês? O que fizeram com minha família? 
Eles dão as mãos. O homem que me trancou no quarto está à direita, a mulher ao centro e o outro homem à esquerda. Fico parado olhando aquilo. Começam a rezar o Pai-Nosso. 
Eu falo gritando.
_ O QUE ESTÁ ACONTECENDO? O QUE ESTÃO FAZENDO NA MINHA CASA? RESPONDAM DE UMA VEZ!

A mulher sorri. Ela me diz que esse não é mais o meu quarto, que essa casa não é mais o meu lar e que agora o meu lar é outro. 
Diz que eu vou ficar bem, que está tudo bem e que logo tudo vai fazer sentido.
A luz da janela ficou ainda mais forte e duas pessoas passam por ela. Um homem e uma mulher.
_ Entraram pela janela? 
Que pergunta idiota! Essa parece ser a menor das minhas preocupações agora.

Os dois que acabaram de surgir sorriem para a mulher que aparentemente lidera o primeiro grupo, em seguida também sorriem para mim e me abraçam, enquanto os outros três continuam a rezar sem parar. 

Eu começo a chorar e murmuro.
_ Acho que entendo... estou com tanto medo... 

O homem que me abraçou dá um passo para trás, diz que cuidarão de mim e me convida para ir com eles.

Eu olho com certo pesar para minha antiga casa. 

Meu lar desde a infância. 

Esse lugar que carrega tantas memórias.

Ele estende a mão e diz novamente que tudo ficará bem. 

Eu estendo minha mão de volta e pergunto.
_ Para onde irão me levar?

NOSSO LAR!

BC