segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A VERDADEIRA MAGIA



Nesse dia das bruxas, repasso aqui uma receita rápida para a preparação de qualquer feitiço básico.

Como eu disse em mandruvás alados, na busca em algo para crer, estudei um pouco acerca de espiritismo, budismo, hinduismo, protestantismo, Santo Daime e... Wicca, o estudo do que é chamado vulgarmente de bruxaria, e posso contar algo que descobri nesse percurso: Não é por você, nem para você, que o mundo gira. Quando você morrer, algumas pessoas sentirão sua falta, mas logo se adaptarão e elas, assim como o resto do mundo, irão continuar suas vidas, mesmo sem os seus dramas particulares e suas convicções e ideologias pessoais "tão importantes". Ter plena consciência disso é a primeira metade da base para a preparação mental necessária para que se consiga conjurar qualquer feitiço e manipular uma pequena magia. A outra metade restante é querer de verdade, sem qualquer razão para peso na consciência. Desejar com pureza, sabendo que ninguém será prejudicado no caminho. Nesse momento relembro aqui a célebre frase de conhecimento popular: “Quando você deseja realmente alguma coisa, todo o universo conspira a seu favor”. Poucas pessoas sabem, mas essa crença, que pode ser compreendida como qualquer tipo de fé, é a base para a magia pura.

Vamos agora analisar o essencial de qualquer ensinamento de magia popular: preparação do ambiente, vestuário, material para a elaboração do feitiço e o principal, as falas a serem conjuradas.

Toda receita que encontrar que venha a ensinar essas coisas sem sentido, leia por curiosidade (qualquer leitura pode ser interessante) e depois ignore, pois não passa de baboseira.

A chamada Magia é simplesmente se integrar à natureza em sua essência, respeitando-a ao aceitar que não somos nada perante essa força, entender seu ritmo e tentar se adequar para obter o equilíbrio desejado. Tudo se trata apenas disso: a busca pelo equilíbrio.

A frase tradicional de halloween dita pelas crianças em frente às casas, “doces ou travessuras”, fantasiadas de demônios, representa na tradição Celta o que pode ser compreendido como forças da natureza dizendo: “me agrade que eu te agrado, ou me desagrade e sua vida se tornará uma bagunça”.

A verdadeira receita da magia pura é: Agrade a vida!

Se você quer saúde, deseje que alguém doente se cure.

Se quer amor, deseje que alguém triste fique feliz.

Se quer dinheiro, deseje que alguém consiga comprar algo de que necessite.

Se quer respeito, deseje que alguém seja respeitado.

E, quando possível, não apenas mentalize, mas faça algo!

Pode parecer piegas, mas realmente funciona. Unindo a primeira metade da base para a preparação mental, destruindo sua idéia superficial de ego e limpando a mente de ideologias e angústias banais, com a segunda metade, o desejo concentrado, você observará estranhas coincidências acontecendo em prol de seu objetivo. Desapego e foco. É o mesmo princípio bíblico que diz: Dá e receberás.

Desejar algo a outra pessoa e se mover em busca da concretização do desejo, faz com que desejem e façam de volta.

Essa é a verdadeira magia, ou fé, ou como quer que queira chamar o que pode de fato mudar a vida de alguém e consequentemente a sua.


B. C.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

VIDAS EM GOIÂNIA LESTE - Histórias dentro da História (01)

PRELÚDIO (do que um dia será um livro – publicação quinzenal)

Era manhã de domingo quando ao voltar para casa me deparei com Dona Otília, antiga moradora do fim da rua, parada, olhando para uma casa recém construída em um dos últimos lotes baldios do bairro, aparentando ver muito mais do que uma residência. Ao passar por ela, a velha senhora me encarou por milênios de segundos até que eu, naturalmente, perguntei: “Olá, Dona Otília! Tudo bem?”.

E é assim que essa história começa.

(.)


1994 - A MALHA ASFÁLTICA

Ainda olhando a casa em nossa frente, Dona Otília começou a explanar suas divagações: “Bruno, você se lembra quando o Beto vinha nesse lote pegar lenha pra fogueira da quadrilha do bairro? Você devia ter uns 10, 12 anos e vivia naquela sua bicicletinha, correndo pra cima e pra baixo deslumbrado com o asfalto. Todo ano, ele e os rapazes fechavam a rua com palha e madeira. Eles nunca mais quiseram festejar depois que o Hélio morreu (...)” [continua em 02/11]

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A SUA RAZÃO DE SER


Há muito e muito tempo atrás, em um estojo azul, localizado no canto superior direito de uma mesa de estudos muito distante, uma longa e interessante discussão cortou o esperado silêncio noturno. O motivo: a borracha resolveu que não iria mais apagar.
(...)
A borracha bradou desesperada:
_ Estou decidida! Eu irei buscar uma nova razão para minha existência. Venha comigo, lápis! Vamos escolher nosso caminho. Sua razão de ser é escrever e sempre que você a exerce eu sou gasta e logo chegarei ao fim e irei morrer. Eu não quero morrer!
O lápis, com sua postura sempre tranqüila e voz serena, prosseguiu seus esforços para acalmar sua amiga:
_ Você tem um papel muito importante no mundo, borracha! É por você existir que os humanos podem errar. Se você não mais apagar, erros jamais serão corrigidos. Não haverá volta! Mudará minha característica principal, a da liberdade de pensamentos, pois possibilito escrever tudo o que vier à mente para que depois você apague. Sem você, eu serei praticamente uma caneta.
Do lado de fora do estojo, ouvindo aquela interessante conversa, o papel se meteu na contenda:
_Não se compare à caneta, lápis! Ela nunca ousou questionar a si mesma. Aprendeu o básico do que tinha para aprender e viverá assim, satisfeita com sua soberba trivial. Talvez ela venha a questionar sua aleteia quando sua tinta estiver secando ou se esgotando. Só então ela irá pensar em tudo o que escreveu. Só então irá pensar nas marcas eternas que deixou em mim.
O papel continuou a expor seu raciocínio:
_ Pequena borracha, ouça bem. Um objeto depende da razão de ser do outro. Quando a caneta escreve em mim, eu me torno um documento para ser consultado, lido e relido, mesmo que com o passar dos anos eu me torne amarelado. Quando o lápis escreve em mim, os pensamentos livres, nem sempre, mas em sua maioria, são esboços, rabiscos, textos e desenhos não satisfeitos, não definidos, não perfeitos. Você é parte de tudo isso borracha. Sua razão de ser está ligada ao lápis de uma forma muito bonita. Vocês, borracha e lápis, formam uma dupla inseparável há gerações. O lápis sempre estará próximo de você. Sua essência, na verdade, influencia até mesmo o meu propósito. Em certo momento, após tanto apagarem o que fora transcrito em mim, eu também fico gasto, deixo de ser bonito e sem marcas. E o que acontece comigo? Consideram que perdi minha razão de ser, me dobram por todos os lados, me dão o formato de uma bola e me jogam em cestas de lixo, sendo minha derradeira honrosa e humilhante função providenciar um breve momento de diversão.
A borracha ouvia a tudo atentamente.
O papel conclui:
_ Sim, você está certa! Quanto mais o lápis escreve, mais você se consome, porém, borracha, quanto mais você se gasta, mais ele repete a escrita e gasta a si mesmo. Como conseqüência, de tempos em tempos o apontador exerce sua razão de ser e aponta o lápis, tornando-o cada vez menor...
O lápis, estranhando toda aquela simpatia, resolveu agradecer ao papel pelos sábios conselhos e retomar a conversa de modo mais particular:
_ Obrigado, papel! O senhor sempre nos auxilia com suas sábias palavras, com sua experiência adquirida pelas constantes escritas que tem recebido ao longo de sua existência. Obrigado!
O papel entendendo a indireta, limitou-se a retornar para sua pasta.
Olhando com carinho para a borracha, o lápis ponderou:
_ Você está apenas nervosa. Pense no que lhe falei e saberá o que fazer. Confio em você, minha melhor amiga. Continue seu caminho, fazendo o que faz de melhor!
E com um sorriso carinhoso, do fundo de seu coração, declarou:
_ Eu preciso de você!
Sem mais argumentos, com os olhos cheios de lágrimas, a borracha virou para o lápis e disse:
_ Sim, lápis! Agora eu entendo. Não é como indivíduos que nossa razão de ser tem sentido. Nós não podemos seguir o caminho que ansiamos, em respeito à razão de ser do objeto próximo, pois estamos interligados. Temos nossas características, habilidades e virtudes pessoais, mas é como parte do estojo que uma aleteia se encaixa na outra e, juntos, somos uma única e completa razão de ser. Muito obrigada por me fazer entender. Obrigada, querido lápis!
Assim, cada material, satisfeito com sua vida, se alojou em seu devido lugar e a paz voltou a reinar naquele estojo.
Naquela madrugada, o lápis transcreveu para o papel um sonho que o humano, dono do estojo, acabara de ter e, exausto, se encostou, distraído e só, no canto esquerdo da mesa, onde, longe dos outros materiais, ele descansou. Subitamente, sua ponta foi encoberta por um apontador que começou a girar, girar e girar com toda a sua energia. O lápis se debateu no início, mas logo perdeu suas forças e deitou-se inerte. A borracha olhou fixamente para o lápis. Um olhar ao mesmo tempo triste e decidido e, mais uma vez, respirando fundo, pegou firme o apontador e tornou a girar. E continuou girando, até que o que antes era um lápis com desígnio próprio, com a sua razão de ser, se transformou em uma pequena porção de lascas de madeira.
Após dar uma última olhada na imensidão daquele quarto, a pequenina borracha, sorrateiramente, se jogou na gaveta da mesa onde tudo ocorreu, e lá, perdida no fundo escuro de seu novo lar, em meio a tantos papéis e outros objetos há tempos esquecidos, ela viveu feliz para sempre.
FIM
BC
P.S.: A moral da história fica a critério do leitor.