domingo, 9 de novembro de 2014

ACEITAÇÃO


Aconteceu uma coisa estranha e interessante comigo ontem que me levou a aceitar, enfim, a vida adulta. Certos momentos na vida nos marcam como um ritual de passagem. Comumente são situações estressantes de sofrimento ou de glória, mas dessa vez ocorreu de um modo leve e natural. Com a intenção de curtir duas das bandas que marcaram minha adolescência, fui a um show de rock acompanhado da namorada e de um casal de amigos. Ontem eu fui curtir um show e, de repente, eu cresci.

A dor por me curar da "síndrome de Peter Pan", estando na companhia de pessoas que, sabe-se lá o porquê (paciência, bondade, espírito evoluído ou distúrbio mental), se mantêm ao meu lado, apesar de mim, foi incrível.

Como eu tendo a ver tudo de modo lúdico, senti que estava abandonando a Terra do Nunca ao lado de Wendy e os meninos perdidos (com todo o respeito da licença poética, amigos).

Aceitar a maturidade não significa que você não possa mais fazer o que gosta ou que tenha que deixar de ser quem você é. Significa fazer o que gosta com mais acuidade, ser quem você é em sua essência e ainda se permitir ser algo a mais. A verdadeira mudança acontece de dentro para fora, da alma para a pele. E como sempre acontece, essa mudança foi lúdica, poética, respeitando a receita básica de nascimento dos grandes poemas: melancolia, sorrisos saudosistas, madrugada, amores e uma pitada de dor nas costas - tuberculose é muito demodê).

Lá estava eu, no excelente show de minhas duas bandas favoritas, na companhia de pessoas que amo e admiro, reclamando do som alto, da superlotação, da neblina, da demora para começar, da demora para terminar, das dores nas costas e nos pés, contando "causos" da juventude, rindo de nós mesmos (todos rindo muito), ao som de  "... Como a vista é linda da roda gigante! Me lambe!" a "... Família é quem você escolhe pra você!" e eu senti a paz que sempre sinto quando consigo ver a poesia das coisas. Era poesia pura.

Gratidão e admiração pelo passado, enxergar os caminhos futuros com um brilho renovado no olhar, aumentam ainda mais minha satisfação com o presente que ganhei. Na verdade, estar ali, em um poema de rimas perfeitas, naquele cenário de um simbolismo cíclico gigantesco e com aqueles personagens marcantes, foi o melhor presente.

Aceito que evoluí e me desapego de quem eu fui um dia. Corrijo, me desapego de ser APENAS quem eu fui um dia e reconheço que é hora de quem minha alma se tornou se manifestar à flor da pele.

Cada um de nós enxerga o mundo a seu modo. Quando você muda, o mundo muda.

Anseio pelas poesias e aventuras vindouras nesse mundo novo.

domingo, 14 de setembro de 2014

Um bom domingo para você! "Rotina domingueira"


       Abro as janelas para o ritual matinal de desejar bom dia ao dia. Respiro fundo e encho os pulmões com o ar fresco do campo. Cheiro de domingo. Sorrio pensando na rotina domingueira. 
Aqui no campo cada um tem seu sistema. A primeira coisa que faço é dar comida e água aos bichos e só depois eu vou à venda. 
Sempre passo pelos pedaços de tijolo no meio da rua, que até o fim do dia anterior serviam como traves do jogo de futebol das crianças do bairro.
Ao chegar na venda, reclamo com Seu Tião que o queijo está muito caro. Seu Tião costumeiramente responde que estou certo. Comerciante esperto! Não abaixa o preço e eu pago o valor cobrado satisfeito.
Na volta, sempre encontro o Seu Antônio subindo a ladeira. Todo domingo ele se diverte me perguntando se deixei um pouco de pão para ele na venda ou se peguei todos para mim. Eu dou risada da brincadeira. Todo domingo.
Quando já estou chegando na varanda de casa, Dona Divina, sem falhar uma semana sequer, me para no portão e reclama um pouco de suas filhas, que não tem ajudado muito nas tarefas de casa, e me atualiza das notícias da vizinhança. Eu respondo algo genérico, tentando ser positivo. Sorrio e entro.
Aproveito meu café na varanda. Termino a leitura do jornal e os meninos já estão na rua aos gritos decidindo-se se o gol valeu ou não.
Para finalizar o ritual nesse sétimo dia de Nosso Senhor, tomo um banho frio, visto minha roupa de fim de semana e encontro os amigos na missa do Padre Zezinho.
Todo domingo. 
Agora respiro fundo mais uma vez, ainda na janela, peço proteção para mim e para você e agradeço pelo dia que terei.
E que você tenha um bom domingo!

_ Ave, Seu Tião! Esse queijo tá muito caro!
_ Sabe que cê tá certo?
_ Obrigado! Bom dia!
(...)
_ Sobrou pão pra mim?
_ Deixei uns pro senhor, Seu Antôin.
(...)
_ Dia, Dona Divina!
_ Ah, meu filho! Tá fácil não! Aquelas menina só quer saber de dormir. Pelo menos são moça direita. Tá sabendo que a filha do Tião embarrigou do namorado? E pelo jeito eles não vão casar não.
_ Ê, Dona Divina! Vai dar tudo certo!
(...)
_ Goool!
_ Não foi val! Foi trave!
_ Foi val sim! Nem vem! Foi dentro!
(...)
Sinos ao longe.
_ Estou atrasado! Acabei me distraindo.

domingo, 24 de agosto de 2014

Você e esses seus caprichos!


Lá vem você com esses seus enjoos.
Às vezes você me cansa, sabia?
Esse seu jeito certo, só seu.
A sua capacidade de querer ser agradada.
E, quando acerto, lá vem você se sentindo entendiada.
E, se insisto em agradar,
você se sente sufocada.

Você e esseus seus caprichos.

Certas vezes você amadurece.
Abre mão de suas exigências.
Torna-se uma pessoa externamente mais agradável
e internamente mais triste.

Seus caprichos são extensões de sua natureza.
Sua natureza é reflexo de sua centelha divina.
Não é escolha sua ser assim,
reagir assim.
E, na verdade, você não prejudica ninguém sendo como você é.
Você é o Pedaço de Deus que há em você, aí dentro.

Você é feliz com seus caprichos,
com seus enjoos.
Esse seu jeito chato.
E eu acabei entendendo que,
se eu gosto de você,
eu preciso gostar de você feliz.

E, já que é assim,
eu gosto do seu jeito chato,
gosto dos seus enjoos.
Eu gosto de você e esses seus caprichos.

Parece um pensamento banal, mas sinto que cresci ententendo que essa compreensão é uma peça fundamental no sentido da vida.
Concluir e aceitar isso me fez bem.

Obrigado!
Muito obrigado!

sábado, 31 de maio de 2014

A joaninha e o vendaval


Ela estava ali no jardim, sobre uma flor umedecida e adormecida que ainda se despertava com os primeiros raios de sol que surgiam naquele meu pedacinho de céu azul, tomando seu gole de orvalho matinal. Era uma joaninha diferente, com um ar que lhe dava o aspecto de um ser ao mesmo tempo frágil e forte. A fragilidade da leveza de seus movimentos e a força oriunda de sua natureza, que, juntas, transbordavam em suas cores tão vivas.

Haviam poucas nuvens no céu naquela manhã. Sabe quando ficam parecendo chumaços flutuantes de algodão? Daquele jeito. A joaninha percebeu que eu a admirava, se virou para mim, abriu suas asas e ficou um tempo assim, estática. Senti uma brisa suave. E a joaninha olhando para mim. Ela abanou um pouco suas asas. A doce brisa se transformou em um vento agradável. E a joaninha olhando para mim. Abanou suas asas mais rapidamente. A ventania tornou-se mais forte. E a joaninha olhando para mim. Ela bateu as asas apenas para mudar para a folha da margarida ao lado e começou o vendaval. Nada ficou em seu lugar. Entulhos foram arrastados e árvores arrancadas pela raiz.

Cobri meus olhos e, lutando contra aquela tormenta, dei um passo a frente e coloquei meu dedo indicador na folha em que ela havia pousado. Ela subiu em meu dedo, acalmou o soprar do vento, parou sobre minha unha e me permitiu admirá-la.

Olhei para cima e já não haviam mais nuvens no céu. Só havia o azul. O azul e a sensação de leveza na alma.

Maoli