quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

ANO NOVO, NOVO UNIVERSO

Listas de resoluções de ano novo não recebem a atenção que merecem. Não prometa a si mesmo que vai começar um regime, nem parar de fumar. “Nesse ano eu vou estudar”. Essas são promessas que, durante o ano inteiro, deixamos para começar na próxima segunda-feira. Sempre na próxima.

Desta vez, faça uma resolução diferente.

No interior de cada um de nós existe uma essência única, que é quem realmente somos. Em geral, as promessas de mudanças são tentativas de adaptar, aparar, suas características naturais, tornando-as mais apropriadas ao sistema, ao mesmo tempo que se distanciam de seu eu mais puro.

Descubra qual simples ritual o permite identificar e visualizar sua verdadeira natureza (seja sentar em um parque, olhar para a lua ou para os olhos de uma mosca) e então se concentre. Você saberá que a identificou quando perceber que não se importa mais com a gordura localizada, quando acender um cigarro ou parar de fumar naturalmente sem ao menos perceber, e quando estudar deixar de ser uma tortura e se tornará mais uma forma de prazer (rasgue a lista que fez até então). Neste momento, quando o mundo parar e o tempo descontinuar, pense em sua resolução de ano novo.

Eu, que sempre fui acusado de ser esquizofrênico e de viver em um mundo lúdico, sei bem qual a minha resolução. Se você pensou que seria algo como mudar meu jeito de ser, sair da bolha e viver como uma pessoa “normal”, por favor, releia a parte que falamos sobre o respeito que se deve ter pela essência do eu mais puro.

NESTE ANO, prometo criar um universo totalmente novo, mais coeso e estável, com características um pouco mais próximas das pertencentes ao considerado “mundo real” e permitirei que pessoas que não desejam estourar minha bolha tenham acesso há um novo mundo lúdico, maior e mais habitável. BWA-HA-HA-HA!!!

É um bom plano. E qual é o seu?


BC Maoli

domingo, 14 de novembro de 2010

PÁSSAROS QUE LATEM

CAPÍTULO I - UMA ESTRANHA UNIÃO

Em um vale cercado por árvores densas, havia um grupo de animais que se reuniam de tempos em tempos para receber uma missão passada pela própria Mãe Natureza. Somente após compreender seu objetivo, o animal poderia continuar sua jornada. Havia algo de diferente desta vez. Animais com características nunca antes vistas.
Neste grupo havia pássaros, raposas, gatos, serpentes, cães e até caracóis. Cada um estava ansioso com sua próxima missão. Pacientemente, a Mãe Natureza dedicou seu tempo a cada um, dando a eles a incumbência que mereciam ou necessitavam.
Chegou a vez dos cães. Dentre eles haviam os chamados cães de rua. Eram cães sem dono, que riam dos adestrados, e passavam grande parte de seu tempo treinando a si mesmos. Orgulhavam-se disso. Seu ritmo, suas façanhas.
A Mãe Natureza parou de frente a um velho cão de rua. Mais velho no olhar do que os anos realmente passaram. Olhou no fundo de seus olhos. Olhou e olhou, até que então disse com sua voz sempre doce e amável: “Sua missão é ser o Pássaro-mais-velho”. O silêncio reinou em todo o vale por longos instantes.

...
O Pássaro-mais-velho era aquele pássaro mais experiente que tinha a função de passar o conhecimento para as aves mais jovens. Recentemente, três pequenos jovens pássaros chegaram ao vale e se uniram ao grupo.
O cão, humilde e respeitosamente, questionou a ordem: “Mãe Natureza... desculpe-me, mas... essa determinação não deveria ser destinada a um pássaro? Há, entre nós, pássaros preparados para tal. Eu sou um canídeo, não sei o que fazer. Eu nunca voei. Como ensinar meus passarinhos a voar? Como alimentá-los?”.
A Mãe Natureza respondeu placidamente: “É o que você deve fazer. Essa é a sua missão!”. E continuou seu caminho, até o próximo animal.
O velho cão, meio sem jeito, olhou para as três pequeninas aves que o observavam com curiosidade juvenil, o achando um pouco estranho para um pássaro. Para começar, resolveu conhecer seus passarinhos, suas individualidades e, assim, tentar entender seu verdadeiro objetivo.

O primeiro que observou tinha o elegante porte de um faisão, mas era algo mais parecido com um encantador e misterioso rouxinol e, como tal, não parava de cantar. Seu canto ininterrupto irritava alguns outros animais, mas o cão gostava. Aquele canto suave o acalmava.
Outro, o passarinho mais delicado, lembrava muito um pequeno canário, mas o cão sabia que, um dia, aquele pequenino ser se revelaria uma imponente arara azul. Tinha uma penugem linda e um olhar alegre, com um brilho intenso. Ainda cantava baixinho e não sabia voar, mas o cão podia ouvi-lo, cantarolando repetidamente enquanto olhava as montanhas ao longe: “Um dia eu vou voar até lá em cima! Vou voar e voar!”. O brilho cegante de seu olhar incomodava alguns outros animais, mas o cão gostava. Aquela luz o permitia ver seu caminho de modo mais claro e simples.
O terceiro pássaro procurava ter uma presença de ave de rapina, mas era, na verdade, um belo beija-flor. Tinha um ar desconfiado e movimentos certeiros, como toda ave que não se deixa admirar, e um olhar de quem achava estranho ser aprendiz de um animal que não realmente uma ave. Seu jeito arisco perturbava alguns outros animais, mas o cão gostava. Aquela firmeza singela o confortava.
O cão analisou a condição em se encontrava, mas ainda não sabia o que fazer, até que... um dos passarinhos saltou em sua direção e começou a cantar para ele. Os outros o seguiram e tentaram também um canto ainda meio irregular, agitaram suas asas como podiam, ainda sem conseguir sair do chão, e, em alguns pequenos pulos, se aproximaram do cão e se sentiram satisfeitos, fortes, protegidos. Em meio a pulos e cantoria, alguns dos outros animais que estavam assistindo aquela estranha união podiam jurar que um dos passarinhos tentou, ainda que de modo desengonçado, esboçar um latido.
O velho cão sorriu e aceitou sua missão: “Por onde começar?”. Com a intenção não apenas de proteger e cuidar, mas de treinar seus passarinhos, construiu um ninho no alto do eucalipto centenário de forma tão irregular e grosseira que apenas um cão seria capaz de fazer.
Olhando aqueles pequenos pássaros, satisfeito com a situação, o cão entendeu que tudo aquilo fazia parte de um plano da Mãe Natureza. Tudo aquilo tinha sua razão de ser. E ao longe, porém próxima a todos, a Mãe Natureza observava atentamente.

B.C.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

DAS COISAS QUE EU ME LEMBRO E A CHUVA


Não me lembro de uma discussão supostamente importante que tive semana passada, mas me lembro de colocar barquinhos de papel na enxurrada quando eu tinha algo em torno de cinco anos de idade.

Lembro-me de chuvas passadas. De ter medo da chuva. De conversas olhando a chuva. De correr na chuva. De ficar de braços abertos, olhar para cima e sorrir sob a chuva.

Lembro-me do olhar dela e do jeito doce que brigava comigo.

Ler um romance policial (o Cão Amarelo), tomando capuccino, ouvindo a chuva, me fez lembrar de um tempo em que o grande debate que tinha com um certo amigo era se Sherlock Holmes era melhor que Hercule Poirot. A lembrança se foi com um sorriso, quando observei que esse duelo verbal perdura há quatorze anos. A discussão foi retomada com o lançamento do último filme do detetive britânico.

Observando a chuva, neste momento, com minha cadela deitada ao meu lado, me lembro de meu avô me ensinar que cachorro atrai raio. Lembrar de meu avô, por sua vez, me trouxe a lembrança dos doces de minha saudosa avó, que sempre acabavam mais rápido quando chovia.

Não me lembro de onde estacionei o carro, nem do que comi durante o almoço.

Alguns chamam de fuga. A verdade é que certas lembranças, mesmo que corriqueiras e simples, devem ir com a enxurrada.

Perdoe-me se não me lembrei do seu aniversário ou de uma briga que tivemos, mas saiba que me lembro sempre, com carinho, da sensação boa de estar ao seu lado durante uma conversa banal.

Coloquei um barquinho de papel na enxurrada hoje. Olhar aquele pequeno origami se aventurando por águas hostis me fez sentir uma paz perfeita. Um momento, uma sensação, da qual com certeza me lembrarei.

B.C. Maoli

sábado, 4 de setembro de 2010

TATUAGENS E OUTRAS MARCAS QUE FICAM

Uma criança que nunca ralou o joelho é uma criança que não tem liberdade para correr.
Para uma alma livre de formas pré-moldadas, marcas são inevitáveis. Como será essa marca, o livre arbítrio nos permite escolher. Antes de nos marcar, a vida nos pergunta: “Você quer uma cicatriz ou uma tatuagem?”.

Cicatrizes são estigmas deixados por feridas que muitas vezes voltam a se abrir. Quando finalmente se fecham, fica o eterno incômodo e a sensação de que aquela mancha, geralmente no peito, não precisava existir.

Uma tatuagem é um registro de um ritual de passagem. Muitas vezes doi quando está sendo desenhada, ainda mais dependendo do tamanho do desenho e o local a ser tatuado. Mas, no fim, olhamos para a bela tatuagem sempre com a satisfação de nos lembrarmos da passagem em nossas vidas que aquela figura representa.

Apesar de estranho, é comum as pessoas se apegarem a cicatrizes. Acreditam não terem chance de escolha, afinal, a maioria não queria mesmo nenhum tipo de vestígio de experiência... Queriam uma alma limpa, imaculada, por saberem que um homem que consegue uma marca não é o mesmo homem que era antes de ser marcado.
A verdade é que há escolha. Quando a vida lhe fizer a pergunta (não se preocupe, ela fará. E quando você menos esperar, perguntará de novo), responda sem pestanejar: “Eu quero uma tatuagem!”.

Nessa altura da jornada, minha alma está repleta de marcas. São desenhos lindos dos quais me orgulho. Lembro com carinho, mas não com saudade do tempo em que não havia vestígios de sinais.

Há pouco tempo consegui mais uma tatuagem.
Minha alma ficou mais bonita.
O mundo ficou mais bonito.

BC

domingo, 1 de agosto de 2010

Férias e as Virtudes Capitais – Parte I


O melhor caminho que encontrei para aproveitar as férias foi me entregar à futilidade extrema. Uma pessoa chata, sistemática, preocupada, paranóica... passar as férias procurando solucionar problemas insolúveis... “organizar as coisas”... estudar... não, obrigado.

Ao me levantar da rede para fazer uma saudável caminhada (a qual fiz de carro) que se concluiu em água de coco gelada, sombra, um momento sentado em um gramado, tive tempo vasto para pensar algo cujo teor minha saudosa avó chamaria de “potocas”: Curtir preguiça é pecado?

Hoje se sabe que a idéia de pecado foi imposta pela sociedade para limitar as ações do homem, sobretudo na Idade Média, alguns desses, pecados capitais, foram considerados merecedores de condenação.

Em apertada síntese:

Preguiça: Curtir a preguiça sem o menor vestígio de culpa é o maior presente que um homem adulto pode se oferecer.

Ira: Extravasar sentimentos ruins previne câncer. Nem é teoria minha, é algo cientificamente comprovado.

Gula: Essa é prima-primeira da preguiça. Frase feita clássica: Comer da sono e dormir da fome. Pra quem não acredita em verdade absoluta, fica a dica.

Luxúria: Consultando wikipédia: “Segundo a Doutrina Católica, é um dos sete pecados capitais e consiste no apego aos prazeres carnais, corrupção de costumes; sexualidade extrema, lascívia e sensualidade.”
Bom... err... bem... Tá, e aí?

Ainda tem vaidade, avareza, inveja, mas a água de coco acabou... dia muito quente... Hora de tomar cerveja.
Conclusão do raciocínio lógico fútil: Curtir preguiça é uma virtude, os outros pecados... também.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O FIM DO FUTURO DO PRETÉRITO

O que significa tudo isso? Por que nós nos aproximamos assim? Por que existe esse limite que nos impede de nos aproximarmos mais? Por que iremos nos afastar? Por que iremos passar algum tempo pensando no que poderia ter sido? Por que não fará sentido termos deixado de viver algo que parecia tão complicado, mas com o tempo veremos que é tão simples? Por que iremos sentir falta um do outro se antes de nos conhecermos a vida seguia normalmente? Por que iremos nos acostumar com a distância e logo depois nos acostumaremos com a total falta de contato? Por que iremos nos tornar agradáveis lembranças de um passado onde tudo era mais leve, mas não sabíamos? Por que olhar para fotos que hoje nem damos muita atenção trará uma sensação estranha? Por que lembrar de uma conversa boba que ainda não tivemos nos fará suspirar? Por que depois de nos distanciarmos um do outro iremos prometer a nós mesmos que aproveitaremos mais a vida e as oportunidades que o universo nos oferece? Por que ouviremos notícias um do outro e iremos fingir indiferença, para logo depois ficarmos imersos em pensamento? Para que?

Hoje eu acordei com vontade de mudar o futuro. Me dá sua mão! Vem comigo!

BC

sábado, 8 de maio de 2010

QUANDO UM CAPÍTULO SE ENCERRA


Somos nossas memórias e o que elas representam em nossas vidas. Quando essas lembranças, que há anos serviram como balança para separar o certo do errado, o que realmente importa do que é banal, o bem do mal, de repente, sem aviso, simplesmente perdem o significado, nos perguntamos: E então? O que acontece?

No ciclo normal de nossas vidas, quando um capítulo é encerrado, temos, por base na premissa deixada nas últimas páginas, uma expectativa do que virá a seguir. Mas, e se o capítulo se encerra por si mesmo? Não que não haja expectativas quanto ao conteúdo de capítulos vindouros, apenas não há mais a sensação de ter havido um “antes”. Tal capítulo é encerrado talvez sem um fim que amarrasse todas as pontas soltas, mas, ainda assim, com a sensação de uma obra completa. Um capítulo que se encerra, como se encerrado fosse todo o livro. Assim sendo, o próximo capítulo não tem o gosto de uma seqüência angustiante, intrigante ou emocionante. É meramente o início de um novo livro dentro da mesma capa.

Todos nos definimos em algo, como algo, para algo. Tendo como definição pessoal, um conflito entre a insatisfação com o presente, um passado agridoce já desaparecendo na memória e um sonho aparentemente inalcançável de futuro, estranhamente perdido toda a importância após uma noite de sono, o que lhe resta? Se o passado não importa, e o futuro não é mais um deslumbre infantil; estando a base que o tornava ciente de quem você é transformada em uma folha em branco, ouso lhe perguntar: Quem você é agora?

Bruno César

LEMBRANÇAS DO FUTURO DO PRETÉRITO E OUTROS TEMPOS VERBAIS QUE NÃO DEVEM SER DITOS (1ª PARTE)


Era uma vez, em um futuro não muito distante, olhando pela janela a procura de estrelas e aguçando seus ouvidos em busca dos sons da noite, você, em um futuro mais próximo do que pode imaginar.

Saber o fim da história pode estragar o prazer de vivenciá-la. Talvez seja o não saber que traz a vontade de viver mais um minuto. Algumas pessoas não se importam se alguém as conta a história de um livro ou filme, vai querer ler e assistir da mesma forma. Essas pessoas não se apegam ao fim, mas, sim, à jornada.
Se você for uma dessas pessoas, continue a leitura.
Se não quer que eu estrague a surpresa, se acha entediante viver sem a ansiedade da insegurança, aconselho a parar por aqui.

Pois bem. Continuemos. Olhando pela janela, você se pergunta onde e quando exatamente estava a encruzilhada cuja estrada você pegou por engano. Seguiu em frente quando hoje você acredita que deveria ter virado à direita.

Vendo as luzes ao longe é estranho e fascinante notar que tudo fica mais fácil, agradável e prazeroso depois que se torna passado. Uma pessoa faz muito mais falta no passado do que faz no presente. No presente nem faz falta. Tanto faz. Mas então se torna passado e... Como você pode viver sem esse alguém? Sua ausência lhe traz uma pressão estranha no peito. Fácil entender porque os poetas relacionavam sentimento com coração em vez de sua verdadeira fonte, o cérebro. O peito realmente dói. Às vezes o cérebro também dói. Mas não se preocupe, vai passar. Não nessa época de seu futuro que estamos abordando, mas um pouco mais a frente. De qualquer modo, vai passar. Você vai se acostumar.

Como tem acontecido nos últimos anos, creio que começou ainda no seu presente, apenas se intensificando com o passar dos meses, a noite lhe atrai com uma força magnética irresistível. As paredes lhe apertam. Você precisa mergulhar na noite. Você sai.

Eu sei que caminhar faz as vozes em sua cabeça falarem mais pausadamente. Um dia você vai me contar isso e eu irei achar estranho, mas pensando bem, depois de tudo que vimos, faz até sentido. Fazer sentido é bom.

Em sua caminhada, você verá lugares movimentados, como aquele bar que um dia você poderia ter ido. Um grupo lhe chama a atenção, pois uma pessoa sentada à mesa se parece muito com quem você era. Era bom, não? Você imagina se são colegas de trabalho. Lembrando-se de seus próprios colegas você não imagina porque tudo aconteceu daquela forma. Vendo agora é tão simples. Simples demais. Se ao menos você soubesse disso antes...

(...)


BC Maoli
17.04.2010

EU SOU!


(Uma tentativa de resposta sincera)

Sou aquele que acorda de manhã e fala: Bom dia, Dia!

Sou aquele que:
Plantou grama para ter a liberdade de pisar
Colhe fruta do pé
Anda com os pés no chão
Sou aquele que depois de tudo, ainda consegue deitar na rede e ver desenho em nuvem

Eu sou aquele que detesta truques de mágica e ama a magia
Que usa roupa do avesso e só percebe na hora de tirar
Sou aquele que sai de casa usando camiseta com estampa de banda, bermuda e chinelo, não por ser fuleiro, não por querer passar alguma idéia, mas apenas porque realmente acha que está bem vestido (bom, talvez eu seja fuleiro)

Eu sou jurista por profissão
Filósofo por natureza
Escritor, por ter algo a dizer, mas que não sai (um dia descubro o que é)
E jornalista, porque agora todos somos

Eu sou aquele que, antes de dormir, olha as estrelas e diz: Valeu, Brother! Valeu!

BC