sábado, 8 de maio de 2010

LEMBRANÇAS DO FUTURO DO PRETÉRITO E OUTROS TEMPOS VERBAIS QUE NÃO DEVEM SER DITOS (1ª PARTE)


Era uma vez, em um futuro não muito distante, olhando pela janela a procura de estrelas e aguçando seus ouvidos em busca dos sons da noite, você, em um futuro mais próximo do que pode imaginar.

Saber o fim da história pode estragar o prazer de vivenciá-la. Talvez seja o não saber que traz a vontade de viver mais um minuto. Algumas pessoas não se importam se alguém as conta a história de um livro ou filme, vai querer ler e assistir da mesma forma. Essas pessoas não se apegam ao fim, mas, sim, à jornada.
Se você for uma dessas pessoas, continue a leitura.
Se não quer que eu estrague a surpresa, se acha entediante viver sem a ansiedade da insegurança, aconselho a parar por aqui.

Pois bem. Continuemos. Olhando pela janela, você se pergunta onde e quando exatamente estava a encruzilhada cuja estrada você pegou por engano. Seguiu em frente quando hoje você acredita que deveria ter virado à direita.

Vendo as luzes ao longe é estranho e fascinante notar que tudo fica mais fácil, agradável e prazeroso depois que se torna passado. Uma pessoa faz muito mais falta no passado do que faz no presente. No presente nem faz falta. Tanto faz. Mas então se torna passado e... Como você pode viver sem esse alguém? Sua ausência lhe traz uma pressão estranha no peito. Fácil entender porque os poetas relacionavam sentimento com coração em vez de sua verdadeira fonte, o cérebro. O peito realmente dói. Às vezes o cérebro também dói. Mas não se preocupe, vai passar. Não nessa época de seu futuro que estamos abordando, mas um pouco mais a frente. De qualquer modo, vai passar. Você vai se acostumar.

Como tem acontecido nos últimos anos, creio que começou ainda no seu presente, apenas se intensificando com o passar dos meses, a noite lhe atrai com uma força magnética irresistível. As paredes lhe apertam. Você precisa mergulhar na noite. Você sai.

Eu sei que caminhar faz as vozes em sua cabeça falarem mais pausadamente. Um dia você vai me contar isso e eu irei achar estranho, mas pensando bem, depois de tudo que vimos, faz até sentido. Fazer sentido é bom.

Em sua caminhada, você verá lugares movimentados, como aquele bar que um dia você poderia ter ido. Um grupo lhe chama a atenção, pois uma pessoa sentada à mesa se parece muito com quem você era. Era bom, não? Você imagina se são colegas de trabalho. Lembrando-se de seus próprios colegas você não imagina porque tudo aconteceu daquela forma. Vendo agora é tão simples. Simples demais. Se ao menos você soubesse disso antes...

(...)


BC Maoli
17.04.2010

Um comentário:

  1. Galera, tem um blog que está fazendo um concurso cultural.
    O prêmio é um livro "Toda Poesia" do Leminski.
    Para quem não tem o livro ainda, acho a dica bem interessante.

    Abraços!

    http://esqueceumpouco.com.br/2013/06/22/concurso-cultural-chegamos-a-mil/

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