segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A ESTRADA NOSTÁLGICA

(Para ouvir parte da trilha sonora que de certa forma “ilustra” o texto, aperte o play)


Ao chegar ao centro de uma casa de espelhos em um parque antigo, vários reflexos de diferentes formas mostram a verdadeira Luzia. Uma é alta e magra, outra é pequena e gordinha, outra é mediana e mediana e tantas outras que não se destacavam por motivos pessoais.

Ao enfiar o dedo no nariz e retirar uma formiga, sua cabeça finalmente parou de doer. Ela correu e correu e sua sombra não parava de segui-la. Olhou para trás e a encarou. A sombra, amedrontada, se escondeu no escuro e a deixou em paz.

Cansada, sentou-se na grama fria e ouviu um chamado: - psiu! – olhou de um lado a outro: - psiu! – olhou para trás e para frente: - psiu! – para baixo e para cima e achou o que procurava. Uma estrela estava chamando-a para a apresentação. A pequena Luzia, ansiosa, abraçou suas perninhas e logo começou o espetáculo. Ficou ali assistindo empolgada enquanto seus risinhos contagiantes se mesclavam a cantoria das estrelas.

Com ânimo renovado, ela aplaudiu dando pequenos pulos e agradeceu aos céus pelo cuidado.

Foi passear no bosque procurando sua formiga para terem uma conversa definitiva. Ela se deitou sobre as folhas secas e pediu desculpas. Aceitando-as, a formiga voltou e entrou em seu ouvido.

Sentindo-se plena novamente, ela andou até o lago, curiosa para descobrir quem ela poderia se tornar. Olhou com nostalgia a água gélida e cristalina e ao perceber que estava de volta, seu reflexo magro e alto sorriu. Luzia mergulhou porque queria tocar no fundo e quando subiu estava ensolarado e já era mulher.

A mulher chamada Luzia caminhou pela trilha do bosque e encontrou a estrada há tempos construída. Cansada pelos dias que virão, podia ver claramente o caminho que iria percorrer de onde estava até a linha do horizonte. Desde uma acentuada curva a esquerda até uma curva leve à direita e então sempre em frente. Durante o caminho, tendo o cuidado constante de se manter longe das calçadas, um único pensamento veio à sua mente: “Quando foi que tudo se tornou tão complicado?”.


Maoli

10 comentários:

  1. Simplesmente lindo!
    Pude através desse magnífico texto,me transportar para um mundo mágico!
    Parabéns!
    Zilda Mara
    @ZildaPeixoto
    Cachola Literária

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Zilda!
    E adorei o http://cacholaliteraria.blogspot.com. Estou seguindo!

    ResponderExcluir
  3. Texto maravilhoso!
    Fiquei encantada desde o início. A escrita é clara e a estória é detalhada e emocionante.
    BjO

    ResponderExcluir
  4. É, o que uma visita à casa dos espelhos não faz... e como sempre, estrelas e formigas são ótimas interlocutoras. Nice story!

    P.S.: fico feliz por ter gostado do poema. Nem li M. dick, mas o mar é sempre inspirador. Ei, se curtiu fica a dica de outros poemas: www.acropolepoetica.blogspot.com

    ResponderExcluir
  5. Pois é. Quando foi que as coisas se tornaram tão complicadas?

    ResponderExcluir
  6. Já tinha gostado daquele pedaço...surreal, mas profundo e encantador!!!Me levou pra fazer uma viagem!!!Muito bom!

    ResponderExcluir
  7. Uma espécie de Alice em versão Luzia, mais surreal e densa. Muito bem elaborado por sinal. gosto dessa criatividade nos textos, trás um frescor. Você sabia que a Blogosfera em Rede Saiu em uma revista, a Friday ? gostaria muito que comentasse e aumentasse a divulgação do grupo. Um abraço querido.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela visita Victor! Eu não sabia da revista. Muito legal! Pode deixar que vou ajudar na divulgação sim!
      Abraço!

      Excluir
  8. Lindo e intenso! Sua percepção de tempo é digno de um encanto permanente.

    Beijos.
    Lu
    http://www.lucianasantarita.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir