sábado, 14 de janeiro de 2012

PRA LONGE DE TUDO


Sentei-me em um lugar mais isolado, mas eu sei que eles querem conversar comigo. Daqui posso vê-los despejando entreolhares em minha direção enquanto concluem sua conversa de praxe para o momento. Penso em me levantar e simplesmente sair andando, mas sou adulto e, como tal, tenho obrigações sociais. Obrigações sociais: coisas que você tem que fazer para agradar a quem não se importa com você. A conversa que eles sentem que precisam ter comigo também é uma obrigação social. É aí que eu fecho os olhos. Fecho apertando bem forte e então respiro o mais fundo possível. Aperto tanto os olhos que começo a ver pequenos pontos de luz que aos poucos vão formando imagens. Geralmente é nesse momento que eu vejo uma espécie de túnel. Túnel não, acho que o nome é vórtice. Sinto-me como num sonho onde eu me liberto e as regras da física não se aplicam. O aqui não é mais aqui e o agora não é mais agora. Então eu vou para bem longe. Vou pra longe de tudo. E eu não sinto mais coisa alguma, nem boa nem má.

Abro os olhos e eles já estão ao meu lado. Eu os vejo, mas não os enxergo. Não assimilo seus rostos. Não guardo informações desnecessárias. Eles falam comigo como previsto. Pelos olhares lânguidos, é a tal fala social que tanto quis evitar. Posso ouvir os sons que saem de suas bocas, mas não consigo entender o que dizem. Longe de tudo, onde estou, não sou capaz de decodificar as palavras. Pela obrigação social, eu procuro olhar em seus olhos. Olhar nos olhos é o básico para que o interlocutor se sinta importante. Pela obrigação social, eu respondo algo genérico, com um tom especial baseado no que imagino que estejam falando. Acho que balanço a cabeça e digo algo como “é verdade... desse jeito...”. Satisfeitos, um deles coloca a mão em meu ombro e se levanta¸ levando quem o acompanhava consigo e, graças a Deus, estou sozinho novamente.

Longe de tudo, eu o procuro. “Achei!”. Focalizo e me aproximo de onde ele está. Toco em sua cabeça e trago-o aqui onde não há mais ninguém além de nós dois. Ninguém para se excitar ouvindo-me me despedir. Até mesmo um tolo imaturo e egoísta, como eu, sabe a hora de deixar ir. “Obrigado!”. A gratidão mais pura. Saio de meu refúgio mental para devolvê-lo ao mundo. A jornada individual se torna ainda mais solitária. O vazio que carrego em segredo se expande. Fecho os olhos e me jogo novamente no vórtice.

É tão tranqüilo... Talvez um dia eu possa ficar aqui para sempre para que minha alma cansada também possa, finalmente, encontrar a paz.


Bruno

3 comentários:

  1. Estes são momentos em que precisamos ficar a sós com a nossa própria dor...Mas a jornada nunca é solitária!

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  2. Que lindo , amei ! Beijos // www.spiderwebs.tk

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