Definir o tipo de texto que você é não é algo que se faz superficialmente, julgando o modo que se leva a vida ou sua profissão. Se seguirmos por esse caminho, minha vida não é um texto, é um filme Sessão da Tarde dos anos 80. O maior clichê piegas. Já quanto à minha tipologia textual, não estou tão certo agora. Com base nesse pensamento, analisarei minha tipologia por exclusão. Não me identifico com o poema, porque vejo poema como a poesia por si mesma. Existe poesia em todas as coisas. Existe poesia em uma árvore dançando com o vento; nas asas de uma mosca que voa pela cozinha; no caminho brilhante da gosma deixada por uma lesma; no canto dos pássaros e em patos no lago. Há poesia na novela, no conto, na crônica, no romance. O poema é a poesia traduzida e codificada. Definitivamente eu não sou um poema. Complicado me identificar. Todos mudamos com as experiências diárias. Eu sei que eu mudei. Creio que é por isso que é mais fácil definirmos quem éramos, do que quem somos agora. Então, vamos lá! Eu já fui um conto, uma fábula, um texto meramente informativo, uma novela onde a cada mudança de tipologia textual, eu continuava alternando entre os personagens que fui um dia, os quais muitas vezes entraram em conflito entre si e terminei como um romance, com um núcleo principal bem definido e outras tramas menores que se desenvolviam simultaneamente. Como as tramas tiveram uma conclusão satisfatória, o texto que eu sou mudou. Os vários personagens, com suas tipologias textuais específicas, foram eliminando-se um a um, até que sobrasse o que foi batizado de “O pequeno”, e assim eu me tornei uma crônica. É isso! Eu sou uma crônica!
Agora você já tem a chave para ler o texto que eu sou. Apesar da impressão estranha semelhante a me despir e permitir que veja minha nudez, digo a você que é uma sensação satisfatória. Facilitar o caminho para que eu seja lido em minha essência é algo mais prazeroso do que imaginei a princípio. E agora? O que acha? Está tudo bem? Confortável? Sim? Que bom, pois é a sua vez! Olhe ao seu redor. Selecione algo, alguém ou alguma coisa que aconteceu hoje. Pense no que não sai de sua cabeça a ponto de mudar seu comportamento. Concentre-se nisso. O que essa coisa lhe faz pensar? Leia a coisa. Extraia o texto e analise o modo como você se sente. Assim você poderá se conhecer melhor. É hora de se despir. Mostre-me a sua tipologia textual! Eu quero ler você!